Zuleika Alambert: a história de uma mulher*

04/06/2013 08:49

Nasceu em 23 de dezembro de 1922 na cidade de Santos (SP). Muito jovem, foi dirigente do Partido Comunista Brasileiro, PCB, no qual permaneceu por quase quarenta anos. Sua militância começa em 1942, quando, na Segunda Guerra Mundial, submarinos alemães bombardeiam navios brasileiros e Zuleika atua na Liga de Defesa Nacional, liderada pelo PCB, lutando pela libertação dos presos políticos e rompimento do Brasil com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Em 1947, com apenas 25 anos, é eleita deputada estadual constituinte no Estado de São Paulo pela legenda do PCB. Apresenta projeto de lei defendendo o abono de Natal, que seria o embrião do 13º salário, e outro em defesa de salários iguais sem distinção de sexo.

Com a cassação do registro do Partido Comunista Brasileiro, em 1947, e a cassação dos mandatos de todos os parlamentares comunistas, no ano seguinte, Zuleika se vê obrigada a atuar na clandestinidade e se muda para o Rio de Janeiro.

Entre as causas a que se dedica está a defesa da Floresta Amazônica. Trabalha na área cultural, principalmente com mulheres e jovens, e como consequência dessa atividade torna-se secretária-geral da Juventude Comunista. Participa intensamente dos Congressos da União Nacional dos Estudantes (UNE). Contribui para a construção do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, movimento de vanguarda que alavancou as atividades culturais do Brasil nos anos 60.

Por sua forte atuação política e capacidade de organização, torna-se a primeira mulher eleita para o Comitê Central e para a Comissão Executiva do PCB. Nesse período, o partido comunista deixa de ser clandestino, embora permaneça cassado.

Sua intensa atividade junto ao movimento estudantil e pelas Reformas de Base é interrompida com o golpe de 1964. Perseguida pela ditadura volta a viver na clandestinidade e, mesmo assim, consegue ajudar várias lideranças a sair do país. Condenada a cinco anos de prisão em 1966, Zuleika parte para o exílio, inicialmente no Chile e em seguida em Paris. Nesse período, seu entendimento da situação da mulher na sociedade é influenciado pelas discussões teóricas sobre um novo feminismo e pelas lutas do movimento de libertação das francesas.

Com a anistia política, volta ao Brasil e integra grupos de mulheres que lutam pelo restabelecimento das liberdades democráticas e por reivindicações feministas. Apesar de se considerar marxista e de recusar a identificação de feminista, Zuleika continua a trabalhar politicamente entre as mulheres proferindo palestras sobre a "A democracia e a mulher” em vários locais do Brasil. Com a abertura democrática, a discussão sobre o feminismo havia avançado no Brasil. Zuleika, sensível às reivindicações específicas das mulheres e estudiosa dessa causa, progressivamente se aproxima do pensamento feminista.

Ainda integrante da Comissão Executiva do PCB, Zuleika propõe e obtém aprovação, em 1980, de um documento renovador sobre a política específica para as mulheres. O desentendimento e a desarticulação reinantes nos partidos comunistas após a dissolução da União Soviética e do chamado bloco socialista impulsionam Zuleika a deixar o PCB e se dedicar quase exclusivamente às questões feministas.

Concentra sua atividade no PMDB pela implantação de políticas públicas para as mulheres. Torna-se uma das fundadoras do Conselho Estadual da Condição Feminina do Estado de São Paulo, criado pelo governo Franco Montoro em 1983, e preside esse órgão em 1985-86.

Dedicando-se a partir de 1989 ao trabalho de difundir no país a luta das mulheres, e inspirada depois pela ECO-92, discute o problema do meio ambiente e da mulher e passa a atuar na vertente ecofeminista, formulando a questão do gênero ligada às macropolíticas.

Logo após completar 90 anos, morre no Rio de Janeiro, em 27 de dezembro de 2012.

Recebeu o título de Cidadã Paulistana em 1983 e integrou o grupo de mulheres brasileiras indicadas para receber o Premio Nobel da Paz.

Escreveu, entre outras obras, Uma jovem brasileira na URSS (1953); Estudantes fazem história (1964); A situação e a organização das mulheres (1980); Feminismo - o ponto de vista marxista (1986) Metodologia de trabalho para as mulheres (1990); Mulher – uma trajetória épica (1997); A mulher na história - a história da mulher (2004).

Ruth Cardoso e Zuleika estiveram juntas na luta pela redemocratização do país e pela criação de instrumentos de políticas públicas em prol da mulher, como o Conselho Estadual da Condição Feminina do Governo do Estado de São Paulo e o Conselho Nacional de Direitos da Mulher do Governo Federal.

No evento “Zuleika Alambert: a história de uma mulher”, promovido pelo Centro Ruth Cardoso, pretende-se reunir amigos e amigas de Zuleika para um bate-papo sobre a história da militante feminista.

 

*Termo de Referência para homenagem a Zuleika no Dia 8 de Março de 2013 no Centro Ruth Cardoso, em São Paulo.

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