Sobre Zuleika Alambert

Zuleika Alambert nasceu em 23 de dezembro de 1922, em Santos, São Paulo.
Seu pai Juvenal Alambert trazia-a sob rígida disciplina e sua mãe Josepha Prado Alambert era a mãe e a dona de casa seguidora dos padrões da época. Não lhe davam liberdade alguma para voar. Originam aí suas primeiras transgressões.

Tem formação em Ciências Contábeis e concluiu o Curso Intensivo de Economia, de Filosofia e História do Movimento Operário Internacional, em Moscou/URSS. Sua militância política impediu que seguisse um caminho linear em sua escolaridade. Autodidata, Zuleika rompeu barreiras inimagináveis para uma mulher nascida nos anos 1920.

Iniciou sua militância política nos anos 1940, durante a II Grande Guerra, filiando-se ao Partido Comunista Brasileiro – PCB. Além de atuar intensamente em todas as ações e atos em Santos e São Vicente, após a guerra, estando o país ainda atado às seqüelas do Estado Novo, participou de manifestações em defesa de presos políticos, por anistia geral e irrestrita, de atos públicos pela redemocratização do país, pela convocação da Assembléia Nacional Constituinte.

Participou na criação da Associação Feminina pela Cultura da Mulher, em São Vicente, em 1943, e na criação de 14 departamentos femininos anexos aos Comitês Populares Pró-Democracia.

Em 1947, aos 25 anos de idade, elegeu-se Deputada Estadual pela baixada santista e juntamente com Conceição Neves Santa Maria foram as primeiras mulheres no Estado a terem assento no Palácio 9 de Julho.

Neste mesmo ano, em 8 de maio, o Supremo Tribunal Eleitoral votou a cassação do registro do PCB. Em um contexto de forte repressão, e já sem o suporte de um Partido legalizado, mas ainda na qualidade de Deputada, participou do grande comício no Vale do Anhangabaú em defesa dos mandatos comunistas.

Em 1948 teve o mandato cassado pela Assembléia Legislativa do Estado em cumprimento à sentença do Supremo Tribunal Eleitoral, sendo obrigada a mergulhar na clandestinidade. O motivo essencial para a busca e ordem de prisão de todos os parlamentares comunistas do país, deu-se a partir de manifesto por toda a bancada em defesa da autonomia de São Paulo, diante da ameaça de invasão do estado por tropas federais.

Na década de 1950 teve atuação redobrada em campanhas pela soberania nacional e pelo Estado de Direito. De 51 a 54, na condição de Secretária-Geral da Juventude Comunista cumpriu suas primeiras tarefas na União Soviética. Na volta, em 1954, ainda na ilegalidade, foi destacada para participar nas atividades da Liga de Emancipação Nacional.

Atuou junto à diretoria da UNE, no início dos anos 1960, assessorando o Comitê Universitário na luta pela criação da Universidade de Brasília, nas campanhas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; Defesa do Monopólio Estatal do Petróleo; Defesa das Areias Monazíticas; Contra a Entrega de nossas Riquezas às Multinacionais. Na área cultural, teve participação destacada na Campanha pela Alfabetização de Adultos, e na criação, desenvolvimento e movimentos de cultura popular e CPCs.

Em 1964, perseguida pelo Serviço Secreto do Exército teve sua casa invadida e depredada, voltando a viver na clandestinidade, desta vez com os direitos políticos cassados por cinco anos. Saiu do país apenas em 1969, com a aprovação da Lei de Segurança Nacional e o Ato Institucional nº 5

Sua primeira atividade como exilada, em Budapest e Hungria, na Federação Mundial da Juventude Democrática, foi ajudar na organização de duas importantes campanhas: Pela Libertação de Ângela Davis e Pelo Término da Guerra do Vietnã.

Em 1971, foi a Santiago do Chile para participar do Encontro da Juventude Mundial contra a Guerra no Vietnã e lá permaneceu auxiliando na organização dos comunistas exilados, participando na criação do Comitê de Mulheres Brasileiras no Exílio, e em todos os movimentos do povo chileno em defesa e pela consolidação da revolução, em trabalhos no campo e na cidade.

Em 1973, foi asilada na Embaixada da Venezuela após o golpe chileno e a retirada de todos os brasileiros para centros de refugiados e embaixadas. Em 1974, foi para Paris, como refugiada sob a proteção da ONU, e lá criou o Comitê de Mulheres Brasileiras no Exterior com trabalho de educação feminista com as mulheres que chegaram do Chile. Teve aí seu primeiro contato com feministas brasileiras e francesas. Ainda sediada em Paris, participou do Congresso Internacional da Mulher, na RDA, Berlim Oriental, e prestou apoio às brasileiras que, vindas do Chile, se asilaram em diferentes países da Europa. Desenvolveu trabalho específico nos Comitês de Mulheres Brasileiras em Bruxelas, Lisboa e Milão.

Em 1979, com a anistia decretada retornou ao Brasil sendo recebida no Galeão por todas as entidades feministas já existentes no Rio de Janeiro. Quinze dias depois, na Casa Grande, numa palestra sobre o tema "Democracia e Mulher" para um público de mais de mil mulheres, apresentou-se como uma marxista preocupada com a mulher. Em 1980, em ato no Teatro Ruth Escobar, integrou a Frente de Mulheres Feministas que então se organizou.

 Em 1983 deixou o PCB passando a se dedicar exclusivamente à questão da mulher, tendo participação no grupo de estudos para a criação do Conselho Estadual da Condição Feminina, no qual ocupou os cargos de conselheira, secretária-geral, presidente, vice-presidente, coordenadora do Grupo de Educação, Cultura e Meio Ambiente, até 1996.

Desde então vem se dedicando integralmente à promoção dos direitos humanos e da condição da mulher em nosso país. A Zuleika Alambert escritora feminista participou como conferencista em mais de duzentos eventos internacionais, nacionais, estaduais e locais. Dentre os de maior destaque estão o Fórum das ONGs da América Latina e do Caribe, Mar Del Plata (Argentina); Preparação para a Conferência de Beijing, 1994;
Conferência Mundial da ONU sobre Habitação (HABITAT II), Istambul, Turquia, 01 a 15/07/1996.

Com o fraterno e justo título de Guerreira da Liberdade, em 23 de maio de 2011, às 10 horas no Auditório Senador Nelson Carneiro da Assembleia  Legislativa do Rio de Janeiro, a deputada estadual Aspásia Camargo homenageou  Zuleika Alambert, de 89 anos, com a moção de congratulações e aplauso por toda uma vida dedicada à luta pela liberdade em nosso país. Aspásia Camargo abre seu discurso com as seguintes palavras: “Estamos homenageando uma guerreira da liberdade e da militância em favor da mulher e dos jovens”. Nascida em Santos (SP), foi ela uma das criadoras da juventude comunista brasileira, num momento de rebelião contra a ditadura de Getúlio Vargas e de movimentação a favor da libertação de presos políticos. Eleita deputada aos 22 anos, em São Paulo, um de seus projetos de lei requeria igualdade salarial entre homens e mulheres. “Até hoje estamos esperando por essa lei”, disse Aspásia, que acredita ser ainda insuficiente a representação feminina na política. Veja mais em:

 

 Livros publicados

Uma jovem brasileira na URSS, Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953.

Estudantes fazem história, Editorial UNE, Rio de Janeiro 1964.

A situação e organização da mulher (Cadernos CMB) Editorial Global, São Paulo, março de 1980.

Os comunistas e a questão da mulher, apresentação de Zuleika Alambert. Cerifa-Novos Rumos, São Paulo, 1982.

Feminismo: O ponto de vista marxista, Editora Nobel, São Paulo, 1986. 

Metodologia do trabalho com mulheres (Cadernos da União de Mulheres de São Paulo), São Paulo, fevereiro de 1990.

Mulher: uma trajetória épica, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1997.
A mulher na História – A história da mulher, Fundação Astrojildo Pereira e Editorial Abaré, Brasília, 2004.

 

Títulos e condecorações

  1. Medalha Anchieta e Diploma de Gratidão do Povo de São Paulo, por serviços prestados à cidade, Câmara Municipal de São Paulo, 26/06/1986.

2. Placa de Prata "Mulher do Ano na Área do Feminismo", Comitê Nacional de Mulheres Brasileiras, Rio de Janeiro, 1988.

3. Placa de Prata, “Jogos Femininos da Primavera”, Secretaria do Trabalho.

4. Placa de Prata, “8 de Março", em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, 08/03/1992.

5. Placa de Prata “Cidade de Osasco", Prefeitura de Osasco, em agradecimento aos serviços prestados à comunidade, 1994.

6. Placa de Prata “8 de Março", Sintetel, 1995.

7. Prêmio Internacional “Cidadania do Mundo”, pela defesa dos direitos humanos, Organização Internacional Baha’i.

8. Diploma “Mulher-Cidadã Bertha Lutz”, em reconhecimento à relevante contribuição em defesa dos direitos da mulher, Senado Federal, 08/03/2004.

9. Placa de Prata “em reconhecimento à sua contribuição à luta política pelas liberdades”, Partido Popular Socialista, durante seu XIV Congresso Nacional realizado em São Paulo em março de 2004.

10. Homenageada “por suas luzes sobre o PCB/PPS”, durante a Assembléia Nacional de Mulheres do PPS, São Paulo, março de 2004.

11. Homenageada na I Conferência Nacional de Políticas Públicas para Mulheres, Brasília, julho de 2004.

12. Diploma “Guerreiras da Liberdade”, em reconhecimento à sua vida dedicada à luta pela liberdade no país, Alerj, 23/05/2011.

Zuleika Alambert faleceu em 27 de dezembro de 2013 em seu apartamento no Leme, Rio de Janeiro, ao lado de sua família após aguardar ansiosamente e comemorar, já muito doente, seus 90 anos.

* Dicionário Mulheres do Brasil/Zahar Editores com atualização nossa.


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